terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Brasil depois das urnas


Administrar o país e cuidar de alianças políticas para dar sustentabilidade ao governo não será tarefa fácil, seja qual for o nome que sair das urnas

Com as cartas na mesa, o mais importante é indagar que estilo de governo resultará das próximas eleições. Não se pode deixar de apontar diferenças fundamentais entre os dois principais oponentes: a candidata petista, se vencedora, poderá ser continuadora do governo Lula, dependendo das pessoas que a cercarem.
Se o núcleo predominante for ocupado pelo próprio Lula e por nomes como Antônio Palloci, Fernando Pimentel, Paulo Bernardo e José Eduardo Cardoso, é provável que as linhas centrais da política econômica não se afastem muito do modelo atual.
Contudo, se a ala mais radical do PT assumir as rédeas, coisa que Lula nunca permitiu, poderemos ter sérias turbulências pela frente: mais controle do Estado pelo partido, mais burocracia e corporativismo, mais corrupção, mais uso de controles não democráticos, além de aproximação com governos autoritários.
Até o momento, ela tem tido opiniões firmes, com as quais podemos ou nã o concordar, e tem lutado, como fez durante toda a sua vida, pelo que acredita.
É impossível prever com exatidão qual será o seu comportamento quando estiver, se estiver, na solidão do poder do Planalto, tendo de conviver com uma aliança política que limitará o seu espaço de manobra.
É necessário lembrar que teremos um vice-presidente da República com voo próprio, dirigente de grande partido político e líder de uma bancada majoritária na Câmara e no Senado.
Serra, por outro lado, deverá ter uma gestão mais competitiva, transparente, com menos ingerência de forças partidárias-sindicais.
Não contará, pelo menos no início de seu eventual governo, com maioria na Câmara e no Senado, o que lhe obrigará a gastar grande parte do seu tempo em tentar aumentar a sua base de apoio parlamentar -algo parecido com o que aconteceu no segundo mandato de Fernando Henrique.
Certamente, haverá um novo direcionamento do papel do Estado na econ omia, o que poderá desagradar parte dos seus apoiadores.
Seja quem for o eleito, vai encontrar o país gozando dos frutos da estabilidade advinda de uma política econômica que seguiu os fundamentos básicos plantados pelo governo de Fernando Henrique, fazendo com que o nosso país passasse com louvor pela recente crise internacional.
Todavia, não se pode deixar de lembrar que o eleito terá que enfrentar a bomba de efeito retardado que Lula vai deixar para o seu sucessor. A política fiscal foi afrouxada, abandonando-se as rígidas metas fiscais do primeiro mandato.
Abriu-se um generoso saco de bondades, ampliando-se de forma inusitada os programas assistenciais. A máquina pública foi inchada com a criação de milhares de cargos, a maioria ocupada por indicados do principal partido de sustentação do governo, o PT.
Administrar o país e cuidar das alianças para dar sustentabilidade política ao governo não será tarefa fácil, seja qual for o no me que resultar das urnas.


NEY FIGUEIREDO, 72, consultor político, é membro do Conselho Superior de Pesquisa de Opinião Pública da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e diretor do Cepac - Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação. É autor de "Diálogos com o Poder", entre outras obras

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