quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Dirceu:Brasil tem ‘excesso de liberdade’ de imprensa

‘Eleição da Dilma é mais importante que a  eleição do Lula’

‘É a eleição de um projeto político, a Dilma nos representa’

Dilma ‘passou por um câncer. Ela sente  muito isso ainda’

‘Existe,  hoje, uma disputa contra nós na comunicação’

‘Problema não é censura, é o  abuso do poder de informar’

 
dirceu Articulador oculto da campanha presidencial de Dilma Rousseff, José Dirceu se expôs por inteiro numa palestra que proferiu na Bahia. Deu-se na noite de segunda-feira (13). O deputado cassado falou para uma platéia de petroleiros. Ele não suspeitava, mas foi ouvido também por repórteres.

As palavras de Dirceu não deixam dúvidas quanto à presença dele na definição dos rumos do PT e no dia-a-dia da campanha de Dilma Rousseff. Para ele, o jogo da sucessão de Lula está jogado. Acha que, sob Dilma, o PT terá mais peso do que teve nas gestões de Lula.

Traçou planos, elencou amigos, esquadrinhou inimigos e levou à mesa temas que o petismo normalmente esconde, como os efeitos do câncer sobre a agenda de Dilma. Entre as reformas que julga pendentes, listou a demcoratização dos meios de comunicação. Acha que há “excesso de liberdade” de imprensa no país, "abuso do poder de informar".

Vão abaixo alguns trechos da palestra de José Dirceu:

- Dilma e o PT: “A eleição da Dilma é mais importante do que a eleição do Lula, porque é a eleição do projeto político, porque a Dilma nos representa. A Dilma não era uma liderança que tinha uma grande expressão popular, eleitoral, uma raiz histórica no país, como o Lula foi criando [...]. Então, ela é a expressão do projeto político. [...] Independentemente de nós termos essa coalizão [partidária], o PT é a base dela”.

- O câncer e a agenda: “[...] Cancelaram vários compromissos [de campanha]. Na minha avaliação foi um erro, mas ele é justificado. Nossa candidata estava num momento muito difícil, muito cansada, tendo que se dedicar aos programas de televisão. Tendo que ir aos Estados. [...] Primeiro, nós temos mais de 40 anos de idade, segundo que ela passou por um câncer. Ela sente muito isso ainda. E a tensão dessa campanha foi muito grande. [...] Infelizmente, aconteceu isso, o cancelamento da agenda. Várias agendas”.

- Futuro do partido: “O PT teve 17% de votos em 2002/2006 para a Câmara, [...] vai ter agora 21%, 23%, eu espero, tudo indica. Tem que ter 33% em 2014. O PT tem que se renovar, tem que abrir o PT para a juventude”.

- Importância do PMDB: “Quando nós pusemos o Alencar como vice do Lula, nós ganhamos a eleição [de 2002]. Como nós ganhamos essa eleição quando o PMDB não ficou com o PSDB. Aquele movimento [da oposição] anti-Renan Calheiros, anti-Sarney... Vocês não vão acreditar que eles são éticos, né? Eles, evidentemente, o que queriam era romper a aliança nossa com o PMDB.

- Papel do BNDES: “O BNDES está consolidando, fundindo a base dos setores, senão nós não conseguimos competir no mundo. [...] Nós temos que fortalecer o Brasil, o Estado, a política econômica e distribuir renda...”.

- Aparelhamento: “Não é verdade essa discursera do Serra. [...] Eles falam: ‘os sindicalistas dirigiam as empresas estatais’. É verdade, nós indicamos sindicalistas mesmo. Agora, vamos ver o balanço [de FHC e Lula]. [...] Não fizemos nenhum investimento como eles fizeram vários desastrosos”.

- Estratégia da ‘direita’: “Quem pode ter poder? Primeiro, o poder econômico. [...] As Forças Armadas estão, hoje, profissionalizadas. O poder econômico se aliou com qual poder? Com a mídia. E qual é o poder que pode se contrapor ao poder econômico e ao poder da mídia no Brasil? É o poder político...”

- Corrupção: Os “graves problemas de nosso sistema político, problema de caixa dois, [...] de corrupção que tem na administração pública, em grande parte para financiar campanha eleitoral, porque o sistema está apoiado nisso, no poder econômico. [...] Campanha de presidente é R$ 200 milhões, R$ 300 milhões. Ora, quem vai financiar isso? As pessoas físicas? Não, as empresas. Aí começa: nomeação dirigida, licitação dirigida, emenda dirigida, superfaturamento, tráfico de influência. Não é que vai acabar, mas o financiamento público, o voto em lista... Nós temos que repensar o sistema político brasileiro”.

- Reformas: “As outras reformas, a tributária, a democratização dos meios de comunicação, o problema da terra, das Forças Armadas, que são questões que não estão equacionadas no Brasil ainda hoje, elas dependem da nossa maioria, depende do país se consolidar porque o país só resolve problemas quando são maduros”.

- Liberdade de expressão: “Dizem que nós queremos censurar a imprensa. Diz que o problema é a liberdade de imprensa. O problema do Brasil é excesso, [...] abuso do poder de informar, o monopólio e a negação do direito de resposta e do direito da imagem. [...] Os tribunais brasileiros estão formando jurisprudência. Se vocês lerem os discursos do Carlos Ayres Britto [ministro do STF], aquilo não é voto é discurso político, que a liberdade de imprensa está ameaçada no Brasil, que é um escândalo...”

- Aliança mídia-oposição: “Eles estão preparando a agenda deles para o primeiro ano de governo. [...] O governo sempre é disputado. [...] Com o apoio da imprensa, eles [da oposição] tentam tomar a opinião pública, forçando determinadas definições ou tentar impedir que nós apliquemos determinadas políticas. Ou paralisando no Congresso ou criando um clima na sociedade contrário...”

- Batalha pessoal: “Temos que nos preparar para a disputa dessa fixação da mídia comigo. [...] Eu disputo, eu enfrento. Eu não deixo nada sem resposta. Eu faço a disputa política na sociedade, no meu blog, dentro do PT. [...] Eu continuei participando da vida política do país, da vida do PT. [...] Eles querem que eu seja condenado, eles querem me banir da vida política do país...”

Elza Fiúza/ABr

- Aqui, no sítio de ‘O Globo’, a íntegra da palestra de José Dirceu.

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