terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Brasil para os brasileiros


diogo mainardes"Só desembarcam aqui os turistas mais
desavisados.
Ou os que buscam sexo barato.
Não
temos monumentos. Não temos ruínas
arqueológicas. Nossas cidades históricas são
um amontoado de
casebres ordinários e
igrejas com
santos disformes" (Diogo Mainardi)

Eu tenho uma regra. Uma regra elementar. Qualquer um pode segui-la. Funciona sempre. Quando a imprensa publica repetidas reportagens sobre o aumento do turismo brasileiro para os Estados Unidos, está na hora de juntar suas economias, ir correndo até o cambista da esquina e trocar tudo por dólares. Em seis meses, seu dinheiro terá dobrado de valor. Não há a menor possibilidade de erro. Outro dia, O Globo publicou uma reportagem dessas. Continha cinco sinais inequívocos de descalabro cambial: 1) Depois de dois anos, a loja de departamentos americana Bloomingdale's voltou a exibir a bandeira verde-amarela em sua fachada. 2) Os vôos da Varig para os Estados Unidos estão com a lotação completa para os próximos três meses. 3) As escolas de esqui no Colorado agora oferecem cursos em português. 4) A Disney estima um crescimento de 17,2% de visitantes brasileiros em Orlando. 5) Uma vereadora do Partido Verde do Rio de Janeiro foi passar as férias com a família em Nova York e aproveitou para assistir à montagem do espetáculo A Gaiola das Loucas, na Broadway. Trata-se da mesma vereadora cujo caminhão de som me acordou diariamente durante a última campanha eleitoral. Escute o conselho de seu amigo Diogo. Os números não batem. O real irá despencar. Ponha o carro à venda e compre dólares. Ponha o apartamento à venda e compre dólares. Depois me escreva agradecendo.

Não que haja algo de errado em querer viajar para os Estados Unidos. Pelo contrário. Quem nunca foi até lá deve pegar o primeiro avião e se mandar imediatamente. Entre viajar para os Estados Unidos e rodar pelo Brasil, é muito mais recompensador viajar para os Estados Unidos. O potencial turístico brasileiro costuma ser grandemente superestimado. Jamais seremos uma meta preferencial dos estrangeiros. O país tem pouco a oferecer. Só desembarcam aqui os turistas mais desavisados. Ou então os que buscam sexo barato. O mundo está cheio de lugares mais atraentes que o Brasil. Da Tunísia à Croácia, da Indonésia à Guatemala. Temos muitas praias. Mas nosso mar é feio. Turvo. Desbotado. Com despejos de esgoto. Pouco peixe. Peixe ruim. Chove demais. Chove o ano todo. Não temos monumentos. Não temos ruínas arqueológicas. Nossas cidades históricas são um amontoado de casebres ordinários e igrejas com santos disformes. Não temos o que vender porque não sabemos fazer nada direito. Não temos museus. Sou um pervertido, e teria o maior interesse em conhecer o museu da Base Aérea de Brasília, onde está exposta a taça de champanhe manchada de batom que dona Marisa usou na inauguração do avião presidencial. Mas como convencer um turista dinamarquês de que vale a pena fazer o mesmo? Nossas florestas estão sempre em chamas. Não sabemos comer. Desrespeitamos as normas básicas de higiene, contaminando os estrangeiros e a nós mesmos. Roubamos. Com um pouco de sorte, até matamos. O Brasil só serve para os brasileiros. A Embratur deveria parar de fazer propaganda enganosa sobre o país no exterior. Por falar em exterior, para onde vamos no Carnaval?

 


Fonte: http://veja.abril.com.br/260105/mainardi.html
Diogo Mainardi

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