domingo, 1 de agosto de 2010

A interface conveniente do PT

São “convenientes”, para Michael Foucault, “as coisas que, aproximando-se umas das outras, vêm a se emparelhar, tocam-se nas bordas, suas franjas se misturam, a extremidade de uma designa o começo da outra”. Ainda quando do primeiro mandato do Presidente Lula, ou talvez mesmo antes, o PT tornou-se muito do que sempre foi o PSDB, em etapas determinadas pelo pragmatismo: o eleitoral, o da “governabilidade” e do poder.

PT e PSDB não são o “avesso do avesso”. Não por acaso se aproximam politicamente. Assumirem-se “convenientes” tornou-se crucial para ambos. Os chamados radicais do Partido dos Trabalhadores sabem das contradições ou “desafios ideológicos”, enfrentados pelos partidos, quando conquistam o poder. Conciliar o passado ao que o presente determina é o maior destes desafios.

Aliança política é a síntese deste pragmatismo, e mesmo os “radicais socialistas” deram demonstrações deste quando chegaram ao poder: bem souberam “ocupar os espaços” - o que somente foi possível graças às alianças partidárias construídas, inicialmente, pelos mesmos setores do PT que assumiram a interface do PSDB e que hoje, por conseqüência, defendem a união entre os dois partidos.

As semelhanças entre um e outro, não por acaso, pontuam o Governo Lula, principalmente quanto à economia. Não faz mais sentido se negarem, nem faz sentido que os setores mais à esquerda insistam em negar que também se tornaram pragmáticos em nome do poder, tão pragmáticos quanto os radicais liberais do PSDB.

PT e PSDB não são a mesma coisa. Mas vivem, citando novamente Foucault, “um estado de emulação, uma espécie de geminação natural das coisas; nasce de uma dobra do ser”. Os dois são como “a imagem de dois gêmeos que se assemelham perfeitamente, sem que seja possível a ninguém dizer qual deles trouxe ao outro sua similitude (semelhança)”.

Alex Nascimento

alex.nascimento.redacao@gamil.com

Jornalista e Professor

Nenhum comentário:

Postar um comentário